segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

De luz e de Sombra


Há um lado obscuro em cada ser. Tão obscuro que até mesmo quem o possui desconhece sua dimensão e profundidade. Não por acaso tem um ditado que diz que não devemos colocar a mão no fogo por ninguém. Ele se nos revela geralmente em ocasiões extremas. Por exemplo, ao sofrermos uma violência, ao sermos desrespeitados em nossos direitos, ao sentirmo-nos ofendidos em nossa própria pele ou na de quem nos é caro. Ele se revela também em situações de conflito interior, ou quando queremos conquistar alguém. Para se tornar merecedora desse afeto, há pessoas que são capazes de coisas inimagináveis. Fingem ser quem não são. Em regra, fingem ser melhores do que na realidade são. Dizem até que no amor e na guerra todas as táticas são válidas.
Falamos de uma pessoa ausente o que não diríamos em sua presença. Nem sempre é por pura maldade. Carentes como a maioria de nós somos, estamos sempre tentando agradar a pessoa que está ao nosso lado, dizendo muitas vezes o que ela quer ouvir, e não, o que pensamos de verdade.
Mas há também um lado claro e brilhante em cada ser. Que nos leva a superar limites,transpor barreiras, ir além, ...
Chegamos a surpreender não só aos outros como a nós mesmos.Não é incomum ouvir alguém dizer : se há algum tempo me dissessem que eu seria capaz de tal feito , eu não acreditaria. Por isso alguns chegam a tomar atitudes exemplares, heróicas.
Enfim, somos todos seres multifacetados. O importante é não adotar uma máscara,e usá-la como se fosse nossa real face.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Fernando Pessoa ( 1888-1935 )



A literatura,como toda arte, é uma confissão de que só a vida não basta.
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Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei aonde ela me levará , porque não sei nada.
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No meu coração há uma paz de angústia, e o meu sossego é feito de resignação.
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Ah, é a saudade do outro que eu poderia ter sido que me despersa e sobressalta!
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A razão é a fé no que se pode compreender sem fé.
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Vivemos todos , neste mundo, a bordo de um navio saído de um porto que desconhecemos para um porto que ignoramos; devemos ter uns para os outros uma amabilidade de viagem.
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De meu, só sinto uma incapacidade enorme, um vácuo imenso, uma incompetência ante tudo quanto é vida.
Nunca aprendi a existir.
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Ler é sonhar pela mão de outrem.Ler mal e por alto é libertarmo-nos da mão que nos conduz. A superficialidade na erudição é o melhor modo de ler bem e ser profundo.
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Só o que sonhamos é o que verdadeiramente somos, porque o mais, por estar realizado, pertence ao mundo e a toda gente.
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Fragmentos do Livro do Desassossego.