sexta-feira, 10 de abril de 2009

Miolo de Pote

Semana Santa me lembra infância. Quando a gente comia bacalhau com uma vergonha danada. Almoçávamos silenciosamente,acabrunhados.No íntimo cada um de nós rezava, para que nenhuma das nossas amigas, ou mesmo algum conhecido dos nossos pais batesse à porta àquela hora. Se isso acontecesse cada um corria até a cozinha para esconder o prato,engolia sem mastigar direito o que tivesse na boca, com o coração batendo a mil, tal era o vexame, e negar ao chegar na sala se perguntassem se a gente estava almoçando. Não, já acabamos faz tempo.

Naquela época comer bacalhau na Semana Santa era apresentar atestado de pobreza. Era o mesmo que num dia comum comer feijão com farinha, puro sem tempero. O tempero propriamente dito era a carne, mas na falta desta, também podia ser uma manga ou uma banana. Até mesmo sardinha em molho de tomate.Ah não posso esquecer daquelas latinhas de carne em conserva, que também chamávamos de quitute. Não me recordo se esse era o nome da marca na latinha.Aquilo fazia uma festa !Se um dos filhos reclamava que a comida estava sem gosto, nossa mãe falava : você é que não está com fome. Tempero de comida é fome. Quando a gente não tá com fome fica botando gosto ruim em tudo. Quando a gente tá com fome de verdade come até pedra e acha bom. Era isso que ela dizia. Volta e meia.

Hoje, comer bacalhau é chique. Qualquer receita que leve este ingrediente é muito apreciado e valorizado. É top do top. É quase tão chic quanto o Brasil emprestar dinheiro ao FMI.